Todo livro tem uma camada literal: você lê palavras que formam frases e compõem uma história. A diferença é que um livro pode ir além disso e conduzir o leitor a outras camadas, de acordo com a realidade e a maturidade de cada um.
Quando falamos sobre literatura infantil, muitas vezes pensamos apenas na camada literal, pois muitas obras apresentam histórias simples, com o objetivo claro de ensinar algo. Limitar-se à camada literal não tem nada de errado, mas, em geral, faz com que o livro seja destinado quase que exclusivamente ao público infantil. De fato, há muitos livros assim, porém, há um universo literário que transcende essas fronteiras e que dialogam com o "eu criança" de leitores de qualquer idade. Essas obras, que oferecem múltiplas camadas de leitura, permitindo novas percepções a cada nova releitura, de acordo com a maturidade leitora, são conhecidas como livros para infâncias.
Isso daria MUITO pano pra manga, mas vamos a um resumo bem resumidinho:
1. A Camada Literal
Essa é a porta de entrada de todo livro. A camada literal pode ser definida como a história, as ilustrações e outras características explícitas, que permitem o encantamento de forma direta e espontânea.
2. A Camada Simbólica
Com o tempo e a prática, o leitor começa a perceber que as histórias não são apenas o que a camada literal contou. A capacidade de interpretação faz com que simbolismos, metáforas e significados mais profundos passem a ser tambpém compreendidos, levando a novas formas de interagir com a obra.
3. A Camada Reflexiva
A maturidade leitora permite ao leitor identificar críticas sociais, questões filosóficas ou aspectos psicológicos embutidos na obra. Essas interpretações mais profundas, que garantem novas descobertas a cada releitura, são o que fazem de obras como O pequeno príncipe, O mágico de Oz e tantos outors clássicos agradem leitores de todas as idades e com todos os níveis de maturidade leitora.
Voltando ao nosso bate-papo... sabe aquele livro que você amava, conitnuou amando e ainda ama? Tudo indica que ele seja um livro que explora muito bem essas três camadas e que se encaixe na definição de livro para infâncias, que rompe com a noção de que a literatura infantil deve ser exclusivamente voltada às crianças, pois histórias que dialogam com crianças também podem abordar temas universais e estimular a imaginação, promover o pensamento crítico e o desenvolvimento emocional de leitores de diferentes idades.
Quando falamos de temas universais, outra coisa que chama a atenção é que nem todo livro é só sobre alegria e diversão. A vida também tem momentos difíceis e temas como morte, perdas ou preconceitos, muitas vezes aparecem nas camadas mais profundas de livros para infâncias. Esses assuntos são comumente chamados de temas fraturantes.
Os temas fraturantes costumam ser abordados de maneira sensível, permitindo que o leitor, especialmente as crianças, compreenda e elabore questões complexas de forma gradual. Em um outro texto dá pra falar bem mais disso... incluindo a importância da mediação quando livros mais profundos são apresentados aos pequenos, pois essa é uma forma linda de favorecer o desenvolvimento da empatia, da resiliência e da compreensão.
Se você quiser se aprofundar mais nesses assuntos, vale buscar livros de Maria Nikolajeva, Nelly Novaes Coelho, Roland Barthes, Lev Vygotsky, Roger Chartier e, claro, Paulo Freire.
É muito gratificante ver como recentemente essas discussões estão ganhando espaço e como a literatura infantil vem apresentando, cada vez mais, narrativas profundas, instigantes e abertas a diferentes perspectivas. Estarmos aqui, conversando sobre literatura infantil, do alto da nossa idade adulta, só comprova isso, não é mesmo?
💬 Então, me conta, qual livro que você releu depois de adulto e percebeu mais camadas?
Eu acho a minha resposta não é um título, mas uma autora: Lygia Bojunga <3
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